Há fossas nas calçadas, diante das casas. Os respiros vazam direto para a sarjeta e tudo escorre para uma vala. Tudo é despejado num lixão, na periferia da cidade.
A equipe do JN no Ar já percorreu 40 mil quilômetros pelo Brasil e chegou ao município maranhense de Pinheiro.
Maranhão: 6,4 milhões habitantes. As praias e os Lençóis Maranhenses são o destino de quase um milhão de turistas por ano.
“Tem bumba meu boi, quadrilhas, tudo o que o maranhense pode aproveitar e outras pessoas que vêm nos visitar”, contou uma moradora.
O principal setor da economia é o de serviços, com destaque para o comércio. A renda média mensal é a terceira menor do país: R$ 594.
Cerca de 90% dos moradores não têm acesso à rede de esgoto em casa e quase 43% não têm água encanada.
O estado tem a terceira mais alta taxa de mortalidade infantil do Brasil e a quarta maior proporção de analfabetos. O Maranhão tem 4,3 milhões eleitores.
O repórter Ernesto Paglia falou, ao vivo, do aeroporto de São Luís do Maranhão, com o apoio técnico da TV Mirante.
A cidade de Pinheiro fica a pouco menos de 90 quilômetros de distância da capital e quem faz o trajeto por terra tem que cruzar de balsa até lá e isso demora mais de três horas. A equipe fez o trajeto em pouco mais de meia hora para conhecer a realidade, muitas vezes difícil, dos quase 80 mil habitantes da cidade de Pinheiro.
O jato ficou em São Luís. A equipe foi de turbo-hélice para Pinheiro. Cruzaram os belos campos alagados, uma espécie de pantanal maranhense. Logo viram os búfalos que são motivo de polêmica.
O Ministério Público Estadual exige na Justiça que os criadores cerquem o gado, trazido da África na década de 60. Pesados, capazes de comer quase tudo que encontram, os búfalos são acusados de prejudicar o meio ambiente.
Na cidade, o estádio mais antigo do Maranhão é cenário de um campeonato amador vibrante: 36 times disputam a liga pinheirense. Vários craques viraram profissionais.
“O futebol aqui no nosso município vem contrapor a questão das drogas”, disse o presidente da Liga de Futebol, Filemon Guterres.
Nas ruas, muita gente se aproximou para levar queixas. As disputas políticas parecem impedir o progresso de Pinheiro. “Está feia a situação dos pobres, eles estão sofrendo, sendo todos humilhados. O dinheiro da verba vem pra cá e eles guardam tudo. Educação, saúde, nós não temos”, se queixou a professora Concita Marques.
Pinheiro não tem esgoto. Há fossas nas calçadas, diante das casas. Os respiros vazam direto para a sarjeta e tudo escorre para a Vala do Gabião.
Pinheiro é um polo de comércio para 20 municípios para a Baixada Maranhense. A feira tem de tudo, mas os consumidores dividem espaço com os urubus.
Cinco anos atrás, começaram a construir uma área de lazer que ficou inacabada.
Em junho, um caso de pedofilia causou espanto no país. Um lavrador teve oito filhos com as próprias filhas. A prisão dele deflagrou uma onda de denúncias. Hoje, há outros 17 acusados de pedofilia na delegacia regional.
“Mesmo com a nossa estrutura, mas nós temos boa vontade e, com apoio da sociedade, nós vamos sim, pelo menos minimizar. O importante é denunciar”, declarou a delegada Laura Amélia Barbosa.
O padre Luigi Risso saiu da Itália há 50 anos, direto para Pinheiro. Construiu estradas, clínicas, poços e, principalmente, escolas.
Hoje, 1,7 mil crianças entre 2 e 6 anos frequentam creches mantidas pelo padre, pagando R$ 20 por mês. Não há ajuda oficial. As escolas são mantidas por doações, principalmente do exterior.
“Educação é importante porque é tudo. O povo educado não pode ser dominado”, destacou ele.
Sem aterro sanitário, Pinheiro despeja tudo no lixão, na periferia da cidade. O esgoto sem tratamento polui o lindo Rio Pericumã e as lagoas dos campos vizinhos.
“Essa sujeira vem toda para cá. A Vala do Gabião desce toda para esse canto. Como isso pode ser uma água limpa”, questiona Maria Santa.
Dona Maria Santa tem restaurante de peixe na beira do rio. A especialidade é a piaba, o lambari do Sul, e o delicioso ensopado de bagre. Tudo com a famosa farinha de mandioca de Pinheiro. O restaurante tem 30 anos. Dona Maria teme pelo futuro do rio e do próprio negócio.
“Prejudica a comida, com certeza. Muda o sabor. Acho que vai melhorar. Tem que melhorar”, deseja ela.
Fonte: Jornal Nacional
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