quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Metalúrgicos e deputados discutem crise em guserias de Açailândia



Uma comitiva de 37 representantes de metalúrgicos do pólo guseiro de Açailândia, mototaxistas e agentes de saúde do município ouviu, durante reunião, na Assembleia Legislativa, com os deputados Helena Barros Heluy, Antônio Bacelar, Antônio Pereira, Irmão Carlos, João Batista, Nonato Aragão e o ex-senador Francisco Escórcio o compromisso de realizar um esforço concentrado para intermediar a sobrevivência das guserias açailandenses ameaçadas de fechar, depois que a multinacional Vale aumentou em 171% o preço cobrado pela tonelada de minério de ferro. O alto custo da matéria prima já causou a demissão de 400 metalúrgicos da Companhia Vale do Pindaré, uma das maiores do setor em Açailândia.
Deputados do bloco governista agendaram reunião entre uma comissão de metalúrgicos e a governadora Roseana Sarney e o ex-senador Escórcio intermediará reunião com o ministro das Minas e Energia e também o presidente do Senado, José Sarney. 
Segundo o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Açailândia, Jarles Adelino, apenas sete dos 15 alto-fornos estariam funcionando na produção do ferro-gusa. Está prevista ainda a realização de uma audiência pública com a presença de representantes dos setores ameaçados de desemprego, de autoridades de Açailândia e dos governos estadual e federal, além de representante da Vale.
Acompanhados pelo presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Nivaldo Araújo, e pela deputada Helena, que solicitou a reunião, os metalúrgicos falaram que o fechamento das guserias ameaça mais de três mil metalúrgicos, além de mais de seis mil empregos indiretos, com repercussão negativa em diversos setores econômicos e na arrecadação do município. Só o Grupo Queirós Galvão demitiu mil funcionários.
Agentes de saúde que acompanham a comitiva disseram-se preocupadas com os transtornos mentais e sociais decorrentes das demissões em massa.
Mais grave
No primeiro semestre, segundo os sindicalistas, a Vale teria notificado o aumento do minério para 83 dólares, mas entre janeiro e julho, o valor subiu de 48 para 135 dólares. A Vale só aceitou diminuir o preço da tonelada para 91 dólares depois de muita pressão de sindicatos e outras 217 entidades. O preço, porém, ainda é alto para as guserias. 
Alguns dos setores mobilizados já se mostraram dispostos a adotar protestos radicais, como a interdição da Estrada de Ferro Carajás, caso os guseiros continuem a fechar os fornos de produção do ferro-gusa.
O assessor da deputada Helena e militante ecológico, Alberto Cantanhede, disse que a Confederação dos Trabalhadores da Vale no Canadá, na África e no Brasil divulgaram documento informando que a multinacional distribuiu R$ 3 milhões para seus principais acionistas – HSBC, Bank Boston e Citibank, por dois anos consecutivos, enquanto empregados da empresa, nos cinco continentes, receberam R$ 2 milhões, o que revoltando os funcionários canadenses que ficaram em greve por um ano.
“A Vale tem ‘caixa’[recursos financeiros], tem linha de crédito, inclusive em recursos públicos. A decisão de aumentar o preço do minério de ferro é estratégica para fechar guserias nos vários continentes”, afirmou Cantanhede.
Capital humano é descartável
Ao final da reunião, a deputada Helena agradeceu aos deputados que se sensibilizaram com o convite feito por ela em seu discurso na tribuna, durante a sessão. Destacou a importância de que os metalúrgicos tenham respostas a apresentar ao retornar para Açailândia.
Helena salientou que, na reunião, “ninguém estava fechando negócio, mas reivindicando e defendendo direitos [dos trabalhadores da guserias]” e lembrou que, quando a Vale era patrimônio público dava lucro para o país e, agora, está mostrando que não precisava ser privatizada, visto que, hoje, deixa o capital fora do país na mão dos acionistas.
“Quando eu ouvia falar de minério de ferro, só lembrava do pó de minério, carvoaria, agora, vejo também como a materialização de como o capitalismo trata o descartar o trabalhador por meio da demissão”, observou.
Helena disse, ainda, que os deputados não vão impedir as demissões, mas pleitear junto às autoridades e à Vale para rever a situação. Também observou que os parlamentares que estiveram na reunião terão por obrigação mobilizar os demais e adiantou que o Legislativo não pode ficar só no discurso, pois a reunião é apenas o primeiro passo

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