terça-feira, 4 de outubro de 2011

Anticoncepcional hormonal feminino eleva riscos de infecção por HIV

 
As mulheres que fazem uso de hormônios anticoncepcionais são duas vezes mais propensas a se infectarem com HIV ou transmitir o vírus causador da Aids ao parceiro, revelou um estudo publicado esta terça-feira (4/10). A pesquisa foi feita com 3.790 casais heterossexuais da África, em que um dos parceiros era soropositivo e o outro, soronegativo. Se confirmadas, as descobertas poderão ter grande impacto nas políticas de contracepção e prevenção da Aids.

Os autores anteciparam que o estudo reforçará a necessidade de enviar mensagens em prol da prática do sexo seguro, na qual o preservativo é considerado um escudo contra a transmissão do vírus.

Os casais foram monitorados, em média, por 18 meses, período no qual 167 indivíduos foram infectados, 73 deles mulheres, de acordo com o artigo, publicado na revista The Lancet Infectious Diseases.

Quanto à prevalência, as transmissões de HIV ocorreram na proporção de 6,61% ao ano entre as mulheres que fizeram uso do contraceptivo hormonal contra 3,78% naquelas que não utilizaram o método. As taxas de infecção de mulheres para homens foram de 2,61% entre aquelas que usaram contraceptivo hormonal contra 1,51% das que não recorreram ao método.

A maioria das mulheres que tomou contraceptivos hormonais usou a forma injetável, duradoura, como a injeção de Depo-Provera. Apenas uma pequena parte fez uso da pílula. Neste grupo, foi constatado um aumento do risco de infecção por HIV, mas não grande demais para ser conclusiva.

Resultados conflitantes
Nas últimas duas décadas, os cientistas lançaram várias pesquisas sobre a influência do uso de contraceptivos hormonais no risco de HIV, mas as pesquisas tiveram resultados conflitantes. Este é o primeiro estudo em larga escala a fazer uso de um projeto ambicioso para fornecer resultados claros dos riscos. Também é o primeiro a ressaltar um aparente risco para os homens.

Os cientistas destacaram que as mulheres que tomam contraceptivos injetáveis tiveram "concentrações aumentadas" de material genético do HIV em suas secreções cervicais. Segundo eles, se este for um mecanismo de transmissão do vírus para os homens, é urgente a necessidade de realizar mais trabalhos para testar a teoria, afirmaram.

Em termos práticos, os médicos devem aconselhar as mulheres sobre o risco potencialmente elevado e alertá-las sobre a importância do uso da "dupla proteção" com preservativos, destacou o estudo, chefiado por Renee Heffron, da Universidade de Washington, em Seattle.

A pesquisa foi realizada entre 2004 e 2010 em Botsuana, Quênia, Ruanda, África do Sul, Tanzânia, Uganda e Zâmbia, como parte de um teste de uma terapia contra o vírus herpes simplex, comum entre pessoas com HIV. Em um comentário, também publicado na revista, o cientista clínico Charles Morrison, mencionou um dilema "trágico".

Promover um controle hormonal da natalidade na África pode estar contribuindo para a epidemia de HIV. No entanto, limitar esta forma altamente eficaz de contracepção também elevaria as taxas de morte e adoecimento maternos, de bebês abaixo do peso e órfãos. "O momento de dar uma resposta mais definitiva para esta questão crítica de saúde pública é agora", através de um teste aleatório de voluntários, escreveu. Em 2009, mais de 33 milhões de pessoas viviam com HIV e 2,6 milhões se infectaram, segundo números divulgados no ano passado pela organização OnuAids

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